Museu Senzala Negro Liberto guarda memória da escravidão no Ceará


Envolvido pelas marcas da história brasileira, o Museu Senzala Negro Liberto, no município de Redenção, guarda memórias desde o século XVIII, retratando o momento vivido no país pelo binômio escravo e senhor de engenho.
A Vila de Acarape, hoje Redenção, foi o primeiro município brasileiro a abolir a escravidão e o fez a 1º de janeiro de 1883. Antecipou-se em cinco anos à abolição da escravatura em todo o país, com a conquistada assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, a 13 de maio de 1888.
A Casa Grande, antigo Engenho Livramento, tem a história desse período. Desde 1873 o engenho ficou nas mãos de três coronéis: Simião Jurumenha, se estendendo até 1913, quando a fazenda é vendida para Juvenal de Carvalho, que em 1930 passa a propriedade para Galdioso Bezerra Lima, seu afilhado, e o local passa de geração a geração. Hoje, o neto Hipólito Rodrigues de Paula Filho, conhecido como “Potin”, 60, e sua filha Eneida Muniz Rodrigues, 34, são os responsáveis pela manutenção da área.
O piso da Casa Grande, em mosaico português, é original do século XVIII. O primeiro proprietário, coronel Simião Jurumenha, era natural de Portugal e é considerado o único dono de escravos da fazenda. Após a libertação, ele vendeu a fazenda para Juvenal de Carvalho.
No ínicio, quando ele comprou a fazenda, o local possuia 100 hectares de terra. Entretanto, quando o terreno foi colocado a venda, o local já havia crescido cinco vezes mais do que quando o adquiriu.

Alunos da EMEF José Themio Bezerra - Palmeira
Participam atentamente de uma verdadeira aula de história do inicio da libertação do negro no Brasil, só estando bem perto de onde tudo aconteceu para se ter uma idéia de como esses seres humanos sofreram em prol de uma "sociedade desumana e que colocam o lucro e o dinheiro acima de tudo".







Museu e fábrica da cachaça Douradinha 

Além do Museu, o lugar também abre espaço para a fabricação da cachaça Douradinha, onde começou a ser produzida na fazenda desde 1873. A priori, os escravos fabricavam a cachaça por meio das chamadas “pedras-mor”, e no início, de acordo com a guia, a bebida era mais para o consumo.
Anualmente de agosto a dezembro, período em que ocorre a moagem da cana-de-açúcar na fazenda, o engenho produz de 8 a 15 mil litros de cachaça por dia, onde o caldo passa por um encanamento até chegar às dornas - local usado para fermentar o caldo da cana. A dorna, construída em 1927, possui capacidade para 20 mil litros de caldo. Atualmente, o engenho funciona 80% a vapor e 20% a energia elétrica.
A Cachaça Douradinha já está no mercado há 138 anos, mas atualmente ela é envelhecida um ano para seu comércio.

Cada objeto, uma história para contar

A estrutura da Casa Grande, construída em 1750, é toda original. Cada detalhe nos compartimentos da casa tem uma nova história para contar.
Logo na varanda há uma cabeça de boi. Segundo conta a guia turística do local, Maria da Conceição, a pessoa que tocar no objeto, preservado durante vários anos, recebe um par de chifres em um período de oito dias.
Ao lado, um sino com a seguinte frase “Sino para anunciar a labuta” (do dicionário online Priberam, o termo labuta significa “trabalho penoso”).Maria explica que, se alguém tocar no sino, caso seja solteira, após o toque nunca mais se casará, ou se for casada, em pouco tempo se separa ou fica viúva.
Não somente os proprietários contribuíram para contar a história do local, assim como também a senhora Maria Estela, que hoje já passa dos 80 anos de idade. Atualmente, ela reside em Fortaleza com os filhos porém mais de meio século da sua vida passou-se ao lado da família de Galdioso, no Engenho Livramento.
A guia falou que Maria Estela relatou a morte de uma escrava na fazenda. Uma escrava causou, acidental-mente, a morte do único filho do senhor Simião. Ela deveria pagar pela própria vida. Ela foi queimada viva em um fogão a lenha da fazenda, e sepultada também em vida na senzala.
Na casa também está preservado o documento que traz o nome antigo do município de Redenção: Vila do Acarape; e o Acarape, chamava-se Calaboca.
O motivo do Calaboca se deu por que na antiga Acarape existia um mosteiro de frades, com a presença de vários indígenas. No momento em que os frades se reuniam para fazer suas orações, os índios o incomodavam com o barulho. Daí, várias vezes o frade se dirigia até eles e os mandavam “calar a boca”.

Castigos
Tronco – para alguns, chamava-se Pelourinho. Os escravos que eram encontrados dormindo ou sem trabalhar no horário do ser-viço, eram direcionados até o Tronco. Lá, colocavam-no exposto para que as pessoas que passassem no local pudessem pegar em um chicote e assim, maltratá-lo.
  • Vira mundo – Neste castigo, os escravos ficavam amarrados das 18 horas até as 5 horas do dia seguinte, com os pés e as mãos presas a um instrumento de ferro.
  • Sala dos Troncos – Os escravos eram surrados com chicotes feitos com bacalhau a couro cru. Na época, cada ponta do chicote continha lâminas, pregos, ferro, etc. Tinha deles, que chegavam a levar, por noite, 40 chicotadas. Como se isso não bastasse, após o castigo eles eram banhados com água, e em sua mistura continha sal, vinagre, pimenta, e urina de animal.
  • Solitária – Caso houvesse tentativa de fuga por parte de algum escravo, ele era direcionado para ficar em um pequeno espaço fechado com uma porta na qual o escravo permanecia por durante 7 dias.

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